Search
Close this search box.

Como se viu na primeira parte desta série, do ponto de vista hermenêutico não é possível afirmar que o profeta Elias teve depressão. Na segunda parte desta série nossa proposta é tentar responder a seguinte indagação: do ponto de vista exegético, com base na perícope 1 Rs 19.1-8, é possível asseverar que o profeta Elias teve depressão?

2 – A depressão de Elias: Ponto de vista exegético.

A exegese, diferente da hermenêutica, se lança em uma busca mais minuciosa sobre texto. Enquanto a hermenêutica se preocupa com o significado do texto para o leitor hodierno, a exegese questiona o significado do texto para os primeiros destinatários [1]. O que o texto pretendia comunicar quando foi escrito? Quais foram suas motivações ao se escrever o texto? Quem foram os escritores, redatores e editores do texto canônico em sua forma final? Para responder a tais questionamentos utilizam-se diversas categorias de métodos exegéticos, especialmente os diacrônicos e sincrônicos [2]. Os métodos diacrônicos perscrutam o crescimento formativo do texto ao longo do tempo, dentre os quais podemos citar o Método Histórico-Crítico e o Método Histórico-Gramatical. Os métodos sincrônicos abordam o texto em sua forma final, podemos mencionar a Análise da Narrativa, Análise Retórica e Análise Semântica.

O espaço não nos permite realizar uma exegese da perícope, contudo, podemos tecer algumas considerações exegéticas sobre o assunto. Caso a expressão “depressão” aparecesse textualmente nas traduções da perícope 1 Rs 19.1-8, dentre os diversos processos dos métodos exegéticos, certamente haveria a Analise Semântica a fim de se determinar qual o vocábulo hebraico teria sido traduzido para o português como “depressão”, como este vocábulo era utilizado à época de redação do texto e em quais sentidos [3]. No entanto, o vocábulo “depressão” não aparece textualmente nas traduções da perícope em análise, tornando inviável a execução do processo conjecturado. Ademais, não há nenhum vocábulo hebraico que pertença ao campo semântico de “depressão”, nem que possa se aproximar deste.

É importante, além disso salientar que, aplicar o conceito de “depressão” que se utiliza hoje, nas ciências médicas e psicológicas, a perícope 1 Rs 19.1-8 se constitui em um anacronismo [4], uma vez que o conceito contemporâneo de depressão não estava em uso no tempo de redação de 1 Reis de modo que o autor sagrado não o tinha em mente ao redigir a narrativa de 1 Rs 19.1-8.

Portanto, a partir das pouquíssimas considerações exegéticas aqui apresentadas, o que se pode afirmar é que não há indícios exegéticos que permitam assegurar que o profeta Elias sofria de depressão.

Continua…

Referências

[1] LIMA, Maria de Lourdes Corrêa de. Exegese Bíblica: teoria e prática. São Paulo: Paulinas, 2017.

[2] GORMAN. Michael J. Introdução à Exegese Bíblica – 1ª Ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.

[3] FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês?: um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. Edições Vida Nova. São Paulo: 2011.

[4] CARSON, D. A. Os perigos da interpretação Bíblica: exegese e suas falácias. São Paulo: Edições Vida Nova, 2007.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *