Nos dois primeiros textos desta série, observamos que do ponto de vista hermenêutico e exegético não é possível afirmar que o profeta Elias teve depressão. Na terceira e última parte de nossa série voltamos nossos olhos para a seguinte questão: do ponto de vista da psicologia, é possível afirmar que o profeta Elias teve depressão?
2 – A depressão de Elias: Ponto de vista psicológico
É importante que se diga que o termo “depressão” é “utilizado com frequência para se referir a qualquer um dos vários transtornos depressivos” [1]. A quinta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V) classifica os transtornos depressivos por sintomas específicos ou por sua etiologia. Os transtornos classificados pelos sintomas específicos são: “Transtorno depressivo maior (muitas vezes chamado depressão maior); Transtorno depressivo persistente (distimia); Outro transtorno depressivo específico ou inespecífico”[2]. Os classificados pela etiologia são: Transtorno disfórico pré-menstrual; Transtorno depressivo decorrente de outra condição médica; Transtorno depressivo induzido por substância/medicação.
A dificuldade teórica de se diagnosticar depressão em personagens históricos, seja ele real o fictício, reside na inacessibilidade a dados imprescindíveis para o diagnóstico, por exemplo o tempo de duração dos sintomas e sua intensidade. Além disso, Coryell (2021) aponta para o fato de que:
“O termo depressão é usado muitas vezes para descrever o humor para baixo ou desencorajado que resulta de desapontamentos (p. ex., calamidade financeira, desastre natural, doença grave) ou perdas (p. ex., morte de uma pessoa querida). Entretanto, termos melhores para esse tipo de humor são desmoralização e desolamento. Os sentimentos negativos de desmoralização e tristeza, contrariamente aos da depressão, fazem o seguinte: ocorrem em ondas que tendem a estar vinculadas a pensamentos ou lembranças do evento deflagrador; desaparecem quando as circunstâncias ou os eventos melhoram; podem ser intercalados por períodos de emoção e humor positivos; não são acompanhados de sentimentos generalizados de inutilidade e auto depreciação. O humor para baixo geralmente dura dias, ao contrário de semanas ou meses; pensamentos de suicídio e perda funcional prolongada são muito menos prováveis.”
Deste modo, do ponto de vista psicológico é mais assertivo propor que o profeta Elias passou por um momento de desolamento ou desmoralização que, propriamente, depressão, nas categorias do diagnóstico clínico.
Conclusão
Para concluir, é importante que se diga que do ponto de vista hermenêutico, exegético e psicológico não é possível assegurar que o profeta Elias teve depressão. No entanto, essa investigação se faz necessária para se evitar que uma interpretação anacrônica seja feita e, por conseguinte, ocorra uma má aplicação das Escrituras em nossas comunidades de Fé. Ademais, é cabe assinalar que a depressão é uma patologia que pode acometer a todas as pessoas, sejam cristãs ou não, e que demanda cuidados psiquiátricos e psicológicos. Lembremo-nos de orar e auxiliar pessoas em depressão. Que Deus, em Cristo, a todos abençoe.
Referências
[1] CORYELL, Willian. Transtornos Depressivos. Iowa: University of Iowa Carver College of Medicine, 2021.
[2] Associação Psiquiátrica Americana. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5 ª ed . ). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing, 2013.