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Em 1557, no dia dez de março, era realizado o primeiro culto protestante no Brasil, e possivelmente na América. Um grande marco histórico para a igreja evangélica brasileira!

Essa história começa dois anos antes, em 1555, quando a França, que tinha seus interesses pelo Brasil, fundou uma colônia conhecida como França Antártica. Mais tarde, o comandante desta expedição, inicialmente simpático à causa da Reforma – depois explicaremos melhor essa parte – pediu para João Calvino que enviasse protestantes para o Brasil. Nicolas Durand de Villegagnon – esse era o nome do comandante – queria pastores para doutrinar tanto os franceses quanto os índios que viviam lá, principalmente porque estava passando algumas dificuldades com os colonos, como motins e outros apertos.[1]

A Igreja Reformada de Genebra atendeu ao pedido e enviou ao Brasil um grupo de 280 protestantes, entre esses apenas 16 eram calvinistas, que chegaram na Baía de Guanabara no dia sete de março de 1557. Celebrando assim, três dias depois, em uma quarta-feira, o primeiro culto protestante no Brasil. 

Os ministros responsáveis por esse culto se chamavam Pierre Richier e Guillaume Chartier, de 50 e 30 anos de idade, respectivamente, ambos calvinistas. Segundo os historiadores, na liturgia do culto o ministro “orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: ‘Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras’. (…) Em seguida, o pastor pregou um sermão com base no Salmo 27.4.”[2] A primeira Santa Ceia foi no domingo 21 de março daquele mesmo ano, mas essa é outra história.

Villegagnon começou a ter problemas doutrinários com os calvinistas[3], a ponto de serem expulsos da colônia e terem que voltar à França. Entretanto, durante a viagem, o barco ameaçou naufragar, fazendo-os voltar às terras brasileiras. Com isso, o almirante mandou prendê-los, acusando-os de hereges, e, para provar suas heresias, mandou que escrevessem um documento defendendo seus posicionamentos teológicos, respondendo a uma série de perguntas em um curto prazo de doze horas.

Tal documento é a famosa “Confissão de Fé da Guanabara”[4] – conhecida também como “Confissão Fluminense”- elaborada por Pierre Bourdon, Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, André la Fon, e Jacques le Balleur. Diversos pontos da confissão foram declarados como heréticos e, já perseguidos, seus autores foram condenados à morte[5]. Dessa maneira, são considerados os primeiros mártires calvinistas do Brasil.

Por mais que a presença dos calvinistas não tenha produzido grandes efeitos concretos – eles não conseguiram implantar uma igreja reformada como queriam – essa data é um importante marco na história das missões, sendo um primeiro trabalho protestante e uma primeira tentativa de estabelecer no Brasil uma igreja reformada, além da herança da bela confissão de fé. Como diz o professor de teologia histórica, Alderi Matos, “Cabe aos presbiterianos a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas.” Que privilégio! 


[1] Segundo o professor Ivan Guedes, “a verdadeira e provavelmente única intenção de Villegaignon ao fazer a solicitação era a de apaziguar os revoltosos e amansar os índios através da religião –  infeliz prática utilizada por todos os dominadores na época  – quer católico ou protestante (e até hoje)”.

[2] Fonte: “10 de Março – Primeiro Culto Protestante no Brasil”, Alderi Souza de Matos, professor de teologia histórica, no Seminário Presbiteriano de pós-graduação Andrew Jumper.

[3] Ainda de acordo com o mestre Ivan Guedes, “Instigado por Jean de Cointa (ex-frade dominicano francês) que suscitara diversas questões teológicas: acerca da consagração de vasos especiais para administração do Sacramento Eucarístico; sobre ser ou não o pão fermentado; sobre o uso de vestes sacerdotais; sobre o uso de sal, azeite e saliva, na administração do Batismo; sobre a significação das palavras sacramentais, e a questão nevrálgica da consubstanciação ou transubstanciação, às quais Villegaignon endossou e tentou impor  – o que vai encontrar uma resistência inflexível por parte do pequeno núcleo calvinista recém-chegados”.

[4] Leia a confissão aqui.

[5] “No dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre Bourdon foram estrangulados e lançados ao mar. André Lafon, por ser o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada sob a condição de que não divulgasse as suas ideias religiosas. Jacques Le Balleur fugiu e foi para São Vicente. Levado preso para a Bahia, ficou encarcerado por oito anos, sendo então conduzido ao Rio de Janeiro, onde foi enforcado.”

Referências: 

– “O Primeiro Culto Protestante no Brasil e Seus Desdobramentos”, Ivan Pereira Guedes, Mestre em Ciências da Religião, Universidade Presbiteriana Mackenzie.

– “10 de Março – Primeiro Culto Protestante no Brasil”, Alderi Souza de Matos, professor de teologia histórica, no Seminário Presbiteriano de pós-graduação Andrew Jumper.

– Projeto de lei, de 2005, pelo deputado federal Jefferson Campos.

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